4 de ago. de 2014

Resenha: Hatefulmurder - No Peace (CD)

Nota 10,0/10,0

Por Marcos "Big Daddy" Garcia


O híbrido de Thrash/Death Metal tende muitas vezes a ser insosso ou mesmo confuso, já que aliar a agressividade e brutalidade do Death Metal com a técnica e adrenalina do Thrash Metal não é tarefa simples, ou como é comum, as bandas caem no ponto comum, e em muitos casos, vemos releituras do SLAYER, e isso é muito ruim. Mas há alguns que encaram o desafio com faca entre os dentes e muito sangue nos olhos. E o quarteto carioca HATEFULMURDER mostra que não está para brincadeiras em seu primeiro álbum, "No Peace", que finalmente chega à luz do dia, disposto a deixar muitos surdos ou com os ouvidos dando sinal de ocupado por longo tempo.

O CD era para ter saído há um bom tempo, mas trocas de baterista e o infeliz falecimento do baixista Ernani Henrique em 2012 deram uma atrasada boa. Mas o grupo mostra-se disposto a recuperar-se de tantos problemas, já que para quem conhece o trabalho do grupo desde o Single "Extreme Level of Hate" de 2009, passando pelos EPs "When the Slaughter Begins" de 2010 e "The Wartrail" de 2011 percebe que a banda deu uma evoluída enorme musical, pois os vocais ferozes de Felipe Lameira mostram não só maior diversidade de tons, mas uma bela dicção; Renan Ribeiro também apurou bastante sua técnica nas 6 cordas, pois os riffs do grupo estão bem trabalhados e na medida certa, e os solos esbanjam melodia; o baixo, gravado por Rômulo Pirozzi, mostra linhas com técnica bem evidente (e em "Scars of God", única música regravada de todos os seus trabalhos anteriores, percebe-se que a linha gravado por Ernani está respeitando a que ele compôs); e a bateria de Thomás Martin mostra-se perfeita, tanto em termos de peso, mas também com uma técnica mais diferenciada que seus antecessores. Resultado: caos em forma de ótima música, com vizinhos pedindo arrego e se mudando.

A gravação foi feita nos Estúdios AM e Pyroz, ambos no RJ, com produção, muito caprichada e bem acabada por sinal, é de Fabiano Penna em conjunto com a própria banda. E quem conhece o currículo de Penna como produtor musical (trabalhou com bandas como UNEARTHLY, ANDRALLS, THE ORDHER, entre outros), sabe o que ele é capaz, e o que ouvimos em "No Peace" mostra uma produção cristalina, timbres muito bem escolhidos, e rispidez, e uma mixagem (feita também por Penna) de primeira, além de ter a masterização pelas mãos de Neto Grous. E vale citar o nome dos experientes Fernando Campos e Luiz Freitag, que cuidaram engenharia de som. Em termos artísticos, temos um trabalho bem feito pelo vocalista Felipe, que deixa bem claro o conteúdo musical/lírico do CD, logo, se preparem!

Hatefulmurder
Falar das composições, além de que encontrarão o mesmo HATEFULMURDER de sempre, só mais maduro, com ótimo nível técnico e violento, é quase desnecessário. A banda mostra que os traumas passados estão superados, e que se preparam para empreitadas maiores. E ainda vale citar que existem as participações especiais de Jean Presser no piano em “Ways of the Lust”, e de Clara Lima nos vocais adicionais de "Scars to God".

A motor-serra do grupo é ligada na excelente "No Peace for the Wicked", grandiosa em seu início (vemos a presença de teclados, inclusive), antes de virar uma paulada de tempo mediano, com grandes variações e presença ótima de vocais e bateria, seguida de "Gates of Despair", com uma caída maior para o Death Metal e mais brutal, embora existam momentos trabalhados onde baixo e guitarras mostram todo seu potencial. A opressiva "Under the Sway of Plagues" mostra mais uma vez tempos não tão velozes (embora existam momentos em que a velocidade aparece), evidenciando bastante os riffs do grupo e a boa diversidade de timbres dos vocais, enquanto "Worshipers of Hatred" é uma canção mais rápida e com pegada Thrash, onde a base rítmica baixo-bateria rouba a cena, e "Ways of the Lust" é uma pequena instrumental climática e bem soturna. "Burned to Ashes" é uma faixa bem diversificada em termos instrumentais (reparem como os riffs mudam constantemente), com o baixo mostrando um trabalho fantástico. Já em "Fear My Wrath" surgem toques de Thrash Metal alemão bem evidentes nos riffs muito bem compostos, enquanto os vocais mostram uma alternância de timbres bem feita (um murro na cara de quem acha que este tipo de vocal é apenas gritaria sem técnica) e a bateria mostra maestria nas mudanças de ritmos. A pegada mais Thrash volta a ficar bem evidente nos riffs de "Shackles of Ignorance", onde a banda mostra um trabalho ótimo como um todo. E fechando, temos uma versão mais explosiva para "Scars to God", que como já citado, buscou manter as linhas de baixo conforme Ernani tocou (imaginem Steve Harris tocando Thrash/Death Metal e terão uma idéia do que temos aqui), mas a estrutura mais intensa e bruta da banda deu uma cara nova à canção, e reparem como os riffs deram uma bela melhorada em relação à versão original (estão mais graves e intensos), fora um solo inspirado e um final semi-acústico muito bem pensado.

A superação é uma marca dos grandes, logo, o HATEFULMURDER mostra que tem grandeza de sobra para conquistar seus objetivos. Esses vão longe e estão de parabéns!

Ah, sim: o disco é dedicado à memória de Ernani Henrique, pois todos aqueles que, como este autor, tiveram oportunidade de conhecê-lo, sabem o quão grande foi a perda para nós, e "No Peace" é um tributo digno de tudo que ele representa até hoje.




Tracklist:

01. No Peace for the Wicked
02. Gates of Despair
03. Under the Sway of Plagues
04. Worshipers of Hatred
05. Ways of the Lust (Instrumental)
06. Burned to Ashes
07. Fear My Wrath
08. Shackles of Ignorance
09. Scars to God


Banda:

Felipe Lameira - Vocais
Renan Campos - Guitarras e backing vocals
Felipe Modesto - Baixo
Thomás Martin - Bateria


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