19 de dez. de 2014

Entrevista com o PRIMAL AGE - Poder destruidor francês a conquistar a América do Sul


Por Marcos “Big Daddy” Garcia



Em termos da cena underground do Hardcore, um dos nomes mais impressionantes e trovejantes é o do quarteto francês PRIMAL AGE. Formado por Didier (vocais), Misty (guitarras), Dimitri (baixo, backing vocals) e Mehdi (bateria), com dois álbuns (“A Hell Romance” de 2007, e “The Gearwheels of Time” de 2010), e desencadeando a violência sonora em muitas turnês por todo o mundo, agora eles estão vindo para a América do Sul para uma excursão massiva com o CONFRONTO.

Graças à ajuda de Felipe Chehuan, pudemos entrevistar Dimitri, baixista e backing vocals do PRIMAL AGE, para conhecer mais sobre a banda, e o que podemos esperar desses shows, e também sobre sua história, conquistas e lutas.


BD: Antes de tudo, Dimitri, é um prazer conhecê-lo, e agradeço muito por esta entrevista. Primeiro de tudo, nos conte um pouco da história do PRIMAL AGE, e aproveitando, o grupo nasceu em 1997, quase 20 anos atrás, mas só possui dois álbuns, então, qual o motivo para terem tão poucos? Óbvio que vocês têm outros lançamentos, como Splits, mas somente dois discos...

Didier
Dimitri: Antes de tudo, obrigado por esta entrevista e a Felipe (Nota do tradutor: Felipe Chehuan, do CONFRONTO) por fazer a ligação entre nós. 

Na verdade, começamos em 1995, mas mudamos o nome da banda depois, mas estamos na estrada por 20 anos. Primeiro, lançamos um MCD chamado "A Light to Purify". É verdade que não fazemos muitos álbuns. Tínhamos um projeto paralelo que se tornou a banda principal entre 2000 e 2005, chamado ABSONE (um projeto Straight Edge vegano) com os mesmos membros do PRIMAL AGE. Encontramos o CONFRONTO pela primeira vez justamente com o ABSONE na Alemanha (no Hellfire Fest de 2003) e outra banda lendária sul americana, o NUEVA ETICA ou o POINT OF NO RETURN no Hellfire de 2002, também com o ABSONE.

Estamos lançando novas músicas em breve para um EP de quatro canções, mas sempre sem ser para um álbum completo.


BD: Uma característica contundente sobre o trabalho musical PRIMAL AGE é que, mesmo depois de tantos anos, sua música continua furiosa e abrasiva, ganhando toques modernos com a passagem do tempo. Vocês acreditam que a evolução deve ser uma constante para o trabalho de uma banda? Em alguns casos, existem bandas que preferem ficar no passado.

Dimitri: Sempre fizemos a música que vem direto do coração, sem nenhuma consideração por modismos. Sempre tocamos na cena Hardcore da Europa no passado, e agora nos sentimos melhor tocando na cena Metal, pois o Beatdown parece o estilo a ser feito. Mas não é para nós, e não mudaremos nosso direcionamento por este tipo de motivo. E ficamos sempre surpresos quando tocamos em festivais onde todos possuem cabelos compridos e não nos conhecem (risos).


Misty
BD: Ainda falando sobre sua música, estes aspectos modernos dos quais falamos acima são devido às novas influências que adquiriram ou às mudanças de formação na banda?

Dimitri: Ambos. Quero dizer, alguns membros saíram e todos ouvimos muitos tipos de música, então... 20 anos é um período longo, e não somos os mesmos que fomos quando tínhamos 20 anos de idade. Até mesmo os estúdios estão muito diferentes em número de equipamentos. Em nossas primeiras gravações, usamos sistemas analógicos, com poucas possibilidades. O som agora é grandioso para cada banda. Quando você ouve os primeiros grupos de Metal ou Hardcore que amamos, a diferença é grande também.


BD: Como vocês vêem seus trabalhos antigos, como o EP "The Light to Purify" de 1999 e "The Gearwheels of Time" de 2010 sob a luz da atualidade? E podem nos contar alguma coisa de interessante daquela época, em termos de dificuldades e aventuras?

Dimitri: Gostamos de cada um deles por motivos diferentes. "A Light to Purify" foi nosso primeiro, que nos tornou conhecidos na Europa. "A Hell Romance" foi o primeiro que fizemos quando voltamos do ABSONE, e nossa volta ao nosso país, já que comumente tocávamos fora da França com este projeto. Foi uma época bem difícil e sentimos muita pressão: será que o público irá gostar? Renascimento ou morte? 

Em "Gearwheels of Time", tivemos um grande momento na banda, muitos shows, um grande e pacífico momento no estúdio, como em feriados. Tivemos todo tempo que precisávamos para fazer as músicas. Com "Kill a Theory" (um Split), tivemos um ótimo momento quando tocamos no Japão com a banda de lá com quem dividimos o Split (CHERISH), e na América do Sul com o MOSTO MALTA (sim, lembramos disso).


BD: Vimos em sua página oficial no Facebook que vocês fizeram alguns shows no Japão ano passado. Como foram estes cinco shows, e qual a recepção do público japonês a sua música? E onde eles ocorreram?

Dimitri
Dimitri: Fizemos apenas 5 shows, pois não poderíamos ficar por muito tempo e não haviam shows interessantes durante a semana. Tocamos mais em Tóquio, claro, mas também do outro lado, em Niigata. Queríamos tocar em mais cidades, mas o custo de logística era imenso. E as pessoas que encontramos no Japão eram incríveis, tão amigas. Nunca esqueceremos esta excursão, não tenham dúvidas!


BD: Bem, temos algumas perguntas sobre o momento atual: seu novo lançamento é um Split com as bandas MOSTO MALTA (da Argentina) e CHERISH (do Japão), o segundo volume de "Kill a Theory", que também será lançado em alguns países da América do Sul, como Brasil e Argentina. Como se sentem em dividir um trabalho com estas bandas?

Dimitri: Estamos muito contentes com todo este projeto. Um álbum era uma opção, mas escolhemos fazer um Split com bandas que poderíamos tocar em seus países. Foi muito especial tocar no Japão com o CHERISH, e faremos o mesmo nesta excursão pelo Brasil, pois no início pretendíamos ir até a Argentina também, mas é muito caro. Nos sentimos bem com o pessoal da América do Sul. Se não for no Norte, encontramos pessoas muito gentis durante nossa primeira tour no México, então, na próxima, quem sabe se não vamos até a Argentina.

Nossos discos são bem distribuídos pela Seven Eight Life do Brasil, Vegan Records da Argentina, e você pode encontrar o Split CD no Chile, Peru e Paraguai também.


BD: Esta pergunta leva a outra: o PRIMAL AGE está vindo para uma turnê na América do Sul. Então, podem nos contar todos os detalhes? Quantas datas e em quais países vocês irão tocar? E quais serão as bandas? Espero que o CONFRONTO esteja com vocês, e que um seja no Rio de Janeiro...

Dimitri: Não temos todos os detalhes ainda, mas o que posso dizer é que tocaremos apenas no Brasil dessa vez. E esperamos dividir shows com o CONFRONTO, uma banda que temos ouvido por muitos anos.

Mehdi
A Tomarock Booking e a Liga HC nos ajudaram com esta tour com Luciano, Rafael da Seven Eight Life, Felipe do CONFRONTO, Rogério do PAURA, e pode notar que estes serão os shows:

27/02 @ RIO DE JANEIRO com CONFRONTO, MAIEUTTICA, DUOH9, CERVICAL
28/02 @ VILA VELHA
01/03 @ CAMPOS DOS GOYTACAZES 
02/03 @ SÃO PAULO

Não sabemos quais bandas tocarão conosco, mas esperamos que sejam PAURA, PURITAN MOSH, XLOST IN HATEX, WORST, CLEAR VIEW, AGRESSÃO VERBAL... Ou, por que não o lendário SEPULTURA? (risos)


BD: Esta é muito importante: desde os primórdios do Hardcore, atitude em protestar contra o sistema, e a criação de formas de tocar e gravar são conhecidas, mas ao mesmo tempo, o PRIMAL AGE tem esta atitude, e é conhecido por nós devido à sua visão política, e suas apologias ao vegetarianismo e também pelos direitos dos animais. E muitos, mesmo estando na cena, não entendem o motivo, o porquê de ser vegetariano e proteger animais, ou mesmo os temas políticos em um mundo cheio de apatia. Por favor, conte-nos sobre isso, e espaço não é problema.

Dimitri: Todos os membros do PRIMAL AGE são vegetarianos, uma coisa muito importante para a banda desde o início. A indústria alimentícia é tão grandiosa quando insana para as futuras gerações. Na Europa, comer animais é algo que cresce a cada década. Muitas pessoas pensam que não podemos viver sem comer carne. A América do Sul produz o alimento para os animais da Europa com soja transgênica de Monsanto, pois somos incapazes de alimentá-los com nossos campos. E isso causa uma enorme poluição também. Mas é difícil fazer com que as pessoas entendam isso, pois nossos governantes fazem o papel em promover isso tudo. A indústria alimentícia, produtores de merdas químicas, ministros da saúde... Todos estão juntos nisso. 

Existem tantos lucros por trás disso que nossa luta parece estar perdida, mas não podemos ver toda esta situação sem dizer nada.


BD: Novamente falando da tour pela América do Sul, o que esperam de nós? É claro que somos conhecidos como os maiores maníacos em shows, mas quais são suas grandes expectativas?

Dimitri: Sabemos que as pessoas apreciam muito os shows no Brasil, o que é uma boa razão para nós irmos. Espero que vivamos grandes momentos no palco com grandes bandas, de ver as pessoas alegres por meio da música.

Primal Age

BD: E após a tour? Vocês têm mais planos para trabalhos com o PRIMAL AGE depois da excursão para um futuro próximo?

Dimitri: Esperamos entrar no estúdio após a tour. Temos novas canções que esperamos estarem em um vinil.


BD: Agradecemos profundamente pela entrevista. O espaço é de vocês para sua mensagem aos seus fãs.

Dimitri: retorno seu agradecimento, e apreciamos muito sua entrevista. É uma grande oportunidade para nós expressarmos antes de chegar e encontrar pessoas que estão tão longe de nós. Esse é o motivo principal para nós, após todos estes anos, estarmos vivos na música.

Esperamos ver muitas pessoas durante e após os shows.

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Veja o vídeo para "While Real Problems Are Hidden":




Nota: queremos agradecer ao PRIMAL AGE por nos conceder esta entrevista, e a Felipe Chehuan (do CONFRONTO) por torná-la possível.

Note: we'd like to thank a lot to PRIMAL AGE for this interview, and to Felipe Chehuan (from CONFRONTO) for making it possible.